Por Rodolfo Conceição
Foto de abertura: divulgação
Assistir ao noticiário nos últimos meses nos traz a sensação de estar vivendo naqueles filmes de ficção científica sobre futuros sombrios e distópicos. Tempos assim precisam de trilhas sonoras condizentes, dignas da decadência humana perante um mundo cada vez mais tecnológico. E isso não tem passado despercebido pelo catarinense Hendrix Garcia aka HDRX. No final de abril, o produtor lançou o EP “Defense Protocol Nº8” pela sua gravadora Algoritmo Records, com premiere do conceituado coletivo underground Hate Collective, trazendo uma mistura empolgante de ambient, IDM, techno, EBM e breaks que refletem com complexidade sonora temas futuristas. Ouça aqui.
“Surfing In Cyberwaves” inicia a viagem digital, tal qual uma atualização do saudoso (para os mais velhos) som ao conectar na internet discada. Cheia de tensão, a track evolui de um ambient para um lado mais percussivo e leftfield. “Decidi nesse EP trabalhar sem pensar em todas as faixas para a pista, já que o momento facilita a aceitação de sons experimentais e provocativos. Construí as faixas sem tanto pragmatismo e a necessidade de serem funcionais do começo ao fim pra uma pista de dança fervorosa. Por isso, tive a liberdade de explorar muito bem o lado ambient, IDM e experimental nas faixas”, explica Hendrix, que trocou o violino e a carreira na música clássica pelas batidas eletrônicas por conta de uma lesão por esforço repetitivo devido a sessões diárias de até 10 horas de estudo. “Encontrei na produção uma saída, onde eu poderia ser não só o violino, mas a bateria, a harmonia, a banda e o maestro do ‘meu concerto’ graças às DAWs”, conta.
Conectado, o ouvinte embarca em uma viagem futurística digna de trilha sonora dos melhores sci-fis. “Access Level 1” aproveita a deixa da introdução e chega com um breakbeat progressivo e sombrio, cheio de texturas e efeitos glitch, uma ode à imperfeição da vida digital moderna. “Para balancear o ‘lightweight’ do EP, com a segunda e a terceira faixa do disco, que saíram na HATE, equilibro a energia e faço dele um bom disco híbrido, funcionando pro home listening e também pro dancefloor”, afirma o produtor.
Foto: divulgação
Na sequência, “Software” vem na forma de um techno mais reto. A track prima pela espacialidade e texturas, cheia de ares que refletem o estilo de HDRX. “As pessoas costumam curtir a construção de um ‘mundo futurista’ com a característica dos meus trabalhos e da minha persona cyberpunk. Acredito que isso acaba engajando uma galera bem específica ligada ao aesthetic da modernidade, experimentalismo sonoro, robôs e máquinas”, traduz
“Defense Protocol Nº 8” dá nome ao trabalho com todo o merecimento. Mais experimental, a track é uma viagem entre as diversas referências sonoras do produtor, traduzidas em forma de baterias complexas, sintetizadores com influência EBM e melodias cheias de tensão, que só é quebrada temporariamente no break que entra quase que como uma volta à superfície para um último respiro rápido antes de outro mergulho denso que acaba em um silêncio súbito e impactante em contraste aos synths.
Ouça “Defense Protocol Nº 8”!