Mary Olivetti e seu blend musical de berço, alma e coração

Por Luiza Serrano

Foto de abertura: Fernando Ximeno

Em braços que embalavam música e filosofia, Mary Olivetti nasceu cercada por sons, vozes, observando grandes medalhões da música popular brasileira, e quando me refiro a medalhões, são nomes como Roberto Carlos, Tim Maia, Rita Lee, que gravavam em sua casa, com o pai Lincoln Olivetti.

As notas e melodias vieram no seu DNA, e o caminho musical foi naturalmente se colocando à frente de Mary, que escolheu sonoridades sintéticas e eletrônicas para contar a sua história, conectando-se a lembrança dos acordes dos instrumentos clássicos que permaneceram na sua leitura e na sua forma de fazer música.

Atrás das CDJs, para os estúdios e a produção de trilhas sonoras para trabalhos que ecoavam em pistas mais mecânicas, em atmosferas mais corporativas, dedicadas ao marketing e propaganda.

E foi necessário um “Choque”, “Rosa”, para voltar a sentir aquele frio na barriga, a se ver novamente como artista e se enxergar pulsando em meio a música. Mary Olivetti assinou um remix oficial para Rita Lee, a convite da própria família da cantora. Soma-se a isso o fato da produtora ser a única mulher a assinar uma versão entre as 12 da coletânea “Rita Lee & Roberto – Classix Remix Vol. 1”.

Com esse blend de berço, alma, coração e, porque não, descobertas e redescobertas, Mary Olivetti é uma das mulheres da cena da música eletrônica que você precisa conhecer!

HM – Quem é Mary Olivetti?

A Mary é uma pessoa simples e humana, uma pessoa que cuida de sua família sem medir esforços, que adora estar entre bons amigos e, sim, uma pessoa que sem dúvidas vive e respira música.

HM – Conta pra gente sobre os seus 20 anos tocando pra baixo e pra cima?

Foi louco [rs]. Comecei a tocar em 2002 e de lá pra cá só fui descansar na chegada da minha terceira filha em 2017. A estrada me deixa saudades mas é preciso decidir-se em um momento da vida. Tenho forte recordação de cada viagem, de cada amigo que fiz, do cuidado que recebia antes e depois de subir no palco e de cada cidade que visitei. Me recordo também dos raros momentos de tensão que atravessei, mas passei por todos de cabeça erguida. Sobretudo sempre tive muita sorte de ter as pessoas certas do meu lado e as coisas erradas bem longe de mim. Gal já dizia que “é preciso estar atento e forte”, eu segui este conselho ao pé da letra e recomendo.

HM – Sua decisão de dar uma pausa na sua carreira está relacionada aos três filhos. Durante este período, como você se manteve conectada à música?

Sim, totalmente relacionada. Ser mãe não é brincadeira e o nosso sorriso no futuro muito se associa com a maneira com que nos dedicamos aos nosso filhos hoje. Eu preferi fazer uma pausa, me adaptar à novos desafios e dar o play novamente com tudo em seus devidos lugares. O modo com que consegui me conectar com a música durante meu “pause” foi não parando de trabalhar na empresa onde sempre estive presente, a Radio Ibiza. Desde 2008 assino trilhas sonoras feitas sob medida para centenas de clientes e esta função eu nunca abandonei, mas a conexão da Mary “artista” com arte não estava acontecendo. Foi aí que comecei a manipular a música de outra maneira. Estou por ora satisfeita, produzo música com os meus filhos lendo livros embaixo da mesa, tudo se encaixou.

HM – O que é um maior desafio? Tocar, cuidar de três filhos, se jogar em uma nova experiência, a produção musical?

Eu acho que hoje o maior desafio é produzir. Em matéria de maternidade já posso me considerar “next level” (repare, não “high level”, aprendizados diários acontecem por aqui!), mas na produção sou aluna.

HM – Quando você percebeu que precisava produzir as suas próprias músicas e imprimir a sua identidade em um som autoral?

Eu segui o flow e caí na produção sem mesmo estar tocando, foi uma desconjunção. Mas durante este hiato que passei na música de pista pude refletir bastante e fazer uma analogia sobre DJs que produzem versus DJs que não produzem. Imagine uma banda mundialmente conhecida que lança seus discos autorais, os Rolling Stones, por exemplo. Agora imagine em paralelo a banda cover que faz shows em todos os bares da cidade nos fins de semana tocando o repertório dos Stones. Pense em fatores como reconhecimento profissional e cachê. Quem você quer ser? Eu sempre fui feliz sendo a banda cover e cheguei onde almejei, porém, não tive tanta clareza de ideias, clareza que só a maturidade nos trás. 

HM – Filha de peixe, peixinha é, certo? Como seu pai, Lincoln Olivetti influenciou em toda a sua caminhada musical e, agora, como produtora?

Meu pai me influenciou com seu repertório, timbres, melodias sincopadas e suíngue nato. Minha mãe me influencia até hoje com pensamentos e filosofias, com aulas de canto e de história da música e cultura brasileira, e principalmente com suas opiniões.

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Mary e Lincoln Olivetti – Foto: divulgação

HM – Seu primeiro lançamento foi um remix para Rita Lee, “Cor de Rosa Choque”. Conta pra gente como foi esse convite e essa responsa, de remixar essa diva da MPB?

Foi altamente desafiador, eu não estava madura pra isso. “Rosa Choque” veio para me ensinar muito do que hoje sei em matéria de produção musical. Somente a dificuldade nos evolui.

HM – Mary, você acompanhou o mercado há 20 anos e agora retomou dentro da produção musical. Como você DJ e produtora percebe a mulher na cena de lá pra cá? O espaço – ou não- que ela conquistou?

Certamente as mulheres conquistaram uma maior fatia de mercado desde os anos 2000, mas ainda temos muito a caminhar. Este tempo todo acompanhei o movimento lá da arquibancada aplaudindo e exaltando-as. Vejo que na produção hoje existem muitas garotas poderosas comandando a nave. Eu torço pra que tenhamos espaço, oportunidades, portas se abrindo, mãos se extendendo. E eu quero ser amiga de todas elas.

HM – Como você expressaria em palavras o seu som, a sua identidade?

Tropical Acids é um ótimo blend ;)

HM – O que podemos esperar da Mary Olivetti nos próximos meses?

Mais músicas, mais lives, projetos de discos (meu e de papis), web-radios… Eu adoro criar, mas cada coisa no seu tempo. E que a inspiração sempre me acompanhe.

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