Relatório alerta para o impacto ambiental causado pela emissão de carbono das viagens de DJs

Por Rodolfo Conceição

Foto de abertura: divulgação

O sonho de todo DJ (eu imagino) é poder rodar o mundo agitando pistas, levando diversão e boa música para onde vai. Porém, você já parou para se perguntar o impacto que tantas viagens podem ter para as mudanças climáticas? O assunto é o tema de um relatório divulgado, recentemente, por um coletivo de Berlim chamado Clean Scene, que estudou as pegadas de carbono de DJs que excursionam e como o desequilíbrio entre os top DJs mundiais e os artistas menores da cena acaba por agravar o problema.

O relatório intitulado Last Night a DJ Took a Flight (se não pegou a referência, volte duas casas) alerta para o impacto que nossa indústria tem no planeta. Para isso, foram analisados os DJs que compõem o top 1000 do portal Resident Advisor, levando em conta quantos vôos eles precisaram pegar para cumprir suas agendas em 2019, quando a cena ainda não sofria com os problemas da pandemia e estava em franca ascensão.

Segundo as estimativas do relatório, esse grupo de apenas mil artistas pegou mais de 51 mil vôos e viajaram aproximadamente 117 milhões de quilômetros. Para cobrir essas distâncias, são necessários 3,2 milhões de litros de combustível fóssil, gerando a emissão de 35 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera.

Para você ter uma ideia do que isso representa, essa quantidade de carbono é o que equivale a geração de energia que poderia sustentar 20 mil casas durante um ano. Trazendo ainda mais para o nosso mundo, é energia suficiente para segurar 8 mil festivais de três dias (saudades, né?) ou para produzir 25 mil discos.

Claro que nem todo DJ viaja tanto quanto os outros, mas, o estudo revela que mesmo fazendo uma média desse grupo de mil artistas, isso ainda representa o dobro da emissão de uma pessoa que é considerada “super emissora” por ser uma viajante frequente. E se compararmos com o “orçamento” de CO2 recomendado de apenas duas toneladas por ano para desacelerar as mudanças climáticas, esses artistas extrapolam o número em 17x, lançando no ar em média 35 toneladas de gases que provocam o efeito estufa.

Para esse estudo, foram coletadas informações sobre as turnês dos artistas no RA, estatísticas de pegada de carbono do Atmosfair e dados do Google sobre qual era o aeroporto internacional comercial mais próximo do local dos eventos. Tudo isso foi processado por um algoritmo da Clean Scene para gerar esses dados que podem ser exagerados, mas não menos alarmantes.

Disparidades da cena acentuam o impacto

No estudo da Clean Scene, eles perceberam que os top 10 DJs da lista analisada pegaram a mesma quantidade de vôos que todos os 147 artistas que fecharam essa lista. Ou seja, eles viajam quase 15x mais. Para ter uma ideia, em 2019, a DJ e produtora belga Charlotte De Witte se apresentou em 39 festivais ao redor do mundo, de acordo com um relatório da Festicket.

E claro que esse desequilíbrio não é nocivo somente para as mudanças climáticas, mas para a cena em si, concentrando muitas datas em poucos artistas, que dominam lines mundo afora, diminuindo o espaço para que novos artistas surjam.

E como melhorar isso?

Apesar de catastrófico, o relatório não se resume a apontar dedos (e deixa bem claro que não quer culpar os artistas em si) e também sugere algumas soluções muito razoáveis para gerar debates, ainda mais levando em conta o cenário de pós-pandemia.

Entre as sugestões, o relatório lista ações para aumentar a equidade e inclusão de minorias na cena artística no futuro, repensar contratos de exclusividade, priorizar rotas de turnês mais eficientes e colaboração entre profissionais, como networking entre produtores de regiões próximas para bookar artistas, barateando e simplificando a logística.

Outro foco de ação sugerido é, justamente, dar mais atenção à cena local, que vai de encontro com os anseios do cenário pós-pandemia. Segundo o relatório, “a indústria dos DJs internacionais que vivem na estrada praticamente ofusca completamente a riqueza dos talentos locais de cada cidade”, ressaltando que 10 anos atrás muitos clubes recebiam fama justamente pelos seus DJs residentes.

O relatório finaliza com a lista completa utilizada como referência, onde você pode ter uma ideia da milhagem que cada um dos mil DJs analisados acumulou e o impacto individual estimado de cada um, listando alguns grandes nomes como Rebekah na 2ª posição, Hernan Cattaneo (6), Guy Gerber (7) e Black Coffee (8) dominando o topo. Confira a lista completa aqui.

Leia o relatório completo (em inglês) clicando aqui.

 

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