Por: Alan Medeiros e Arjana Jonsson Alguns poucos personagens possuem no currículo um histórico realmente decisivo para o crescimento da house music. Um deles é o americano Danny Tenaglia. Influenciado pelo nascimento do house em Chicago e principalmente Nova York, Danny se tornou um dos ícones do estilo e desde o século passado contribui com suas interpretações únicas para a house music, tanto no estúdio, quanto na pista.
Um dos maiores hits da história da dance music é fruto do talento de Tenaglia. Music is the Answer é uma daquelas faixas capazes de marcar toda uma geração e transformar a jornada de um artista – assim como aconteceu com o produtor americano. Mas, engana-se quem pensa que sua discografia se resume a isso: Danny Tenaglia é o autor de outros grandes sucessos, como Elements (1997), Back to Basics (2002) e Dibiza (2006). Além disso, contribui com importantes selos de NY e assinou diversos trabalhos para Global Underground – marcando com maestria a virada do século.
DANNY TENAGLIA –
Devo dizer que como venho de uma família musical que aprecia a música e sempre fui cercado por ela, o meu interesse pela música começou quando eu tinha 4 anos. Minha tia que vivia próximo a mim, tocava piano e discos, e de certo modo foi a pessoa mais responsável por eu entrar no mundo da música. Sua paixão era contagiante e ela me transcendia isso. Alguns anos depois de eu começar a tocar piano, ficou claro para todos que a música seria muito importante para mim (embora as aulas de solfeggio fossem muito cansativas).A primeira vez que ouvi um DJ tocar foi quando eu tinha 12 anos, em uma mixtape tocada pelo meu primo na bodega da vovó (loja). Estava muito interessado em como eles faziam aquilo e como eles mixavam com dois toca-discos. Em 1972, liguei para o cara que gravou essa mixtape, Paul Casella, ele ficou surpreso com o fato de um garoto de 12 anos ligar para ele e estar interessado em música. Então, Paul veio ao meu encontro e do meu primo, e trouxe mais 5 mixtapes – estudei muito elas. Depois da escola eu sempre ia pra loja de discos procurar records, descobrir aqueles que eu gostava. E assim foi basicamente como tudo começou
DT –
Quando eu estava um pouco mais velho, por volta de 13-14 anos, comprei dois toca-discos baratos e estava tentando mixar em casa. Alguns anos depois, com 17-18 anos, comecei a ir aos clubes e também tive meus primeiros toca-discos profissionais, isso aconteceu há 41 anos. Em 1977, eu estava indo para todas as discotecas famosas, como Garage, Loft e muitas outras. Garage era um lugar tão especial, não tinha bebida (alcoólica) dentro, era tipo um armazém, soundsystem, luzes e pessoas com atitude. Para ir lá, você tinha que ser um membro e conhecer a equipe, você tinha que ir ao seu escritório na quinta-feira para solicitar. Eles queriam conhecer todas as pessoas e certificar-se de que você estava lá por amor à música e ao lugar. Foi uma experiência muito espiritual, fizemos uma brincadeira de chamá-lo de “igreja” porque aquilo era muito poderoso.
DT –
Quando Larry tocava, tudo de repente ficava sincronizado. As pessoas respondiam à música de uma maneira mágica com sucessos clássicos daquela época, como Love Sensation – Loleatta Holloway. Quando algumas músicas terminavam, as pessoas gritavam muito e batiam os pés tão forte que, às vezes, ele simplesmente tocava novamente. Ele era como um padre em uma igreja, o que nós todos aprendemos com ele foi como tentar influenciar e conectar o público pelo ritmo, parar e reiniciar a música no momento certo.DT –
Eu estava tocando no club Twilo em 1996. Twilo era um club muito grande em Nova York, que estava tentando ser o que Paradise Garage foi. Recebi uma ligação da Twisted Records, dizendo que eles tinham um material de um artista chamado Celeda, de Chicago, com faixas chamadas “Messing with my mind” e “Get it together” e realmente gostei. Na época, eu estava recebendo uma grande atenção em Miami e estava indo para o Winter Music Conference. Lá conheci muitas pessoas da indústria, DJs, labels, e líderes da indústria musical, e foi lá que comecei a tocar as duas faixas de Celeda, que chamaram a atenção das pessoas.Celeda era transexual, cujo mentor era Sylvester (“You make me feel mighty real”), e a ideia era que as pessoas esquecessem seus problemas, todos os tipos, se reunissem na música, e fossem livres. Quando a música atingiu um sucesso enorme, fiquei muito feliz e satisfeito.
DT –
Ao longo dos anos tive que corrigir muitas pessoas sobre esse assunto, porque o meu post de alguma forma ficou perdido na tradução. Nunca percebi quais os impactos que isto causaria e o tamanho da sua influência. A postagem na verdade dizia “Estou renunciando e não me aposentando” e foi um período que eu estava me sentindo muito mal, pois tive perdas familiares terríveis com minha mãe e tia que faleceram. Muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo e depois de tudo isso o meu computador foi roubado com todas as minhas músicas, me senti absolutamente terrível.Foi um período na minha vida em que eu só tinha que parar de viajar por um tempo, fazer uma pausa e concentrar no que realmente importa. Tirei um tempo para recuperar o folêgo. Continuei trabalhando, mas sem viajar para o exterior por um tempo. O problema deste post foi que se tornou viral e a maioria das pessoas não leu com atenção. Inclusive tive um encontro engraçado com um dos meus ídolos Giorgio Moroder, que me perguntou a mesma coisa em um club em NY. Então, este post tornou-se importante para tantas pessoas, mas na realidade, eu nunca disse que estava me aposentando, apenas que precisava de uma pausa.
DT –
Como eu disse, minha tia Nancy teve grande influência na minha educação musical e ela tinha muita paixão por Sergio Mendes e Brasil 66. Nancy basicamente me ensinou sobre música através desses discos. Era tudo sobre o ritmo, construções de música… Ela tocava no piano.Lembro-me deste álbum especifico chamado “Equinox”, embora eu não entendesse nada do que eles estavam dizendo, de alguma forma parecia certo, lembro especialmente da melodia “Viramundo”, me chamou atenção.
DT –
Música para mim é conforto, alegria, paz e amor. Eu amo a música com todo o meu coração, tenho um “belo trabalho” e estou conectado com milhões e bilhões de pessoas, há algo muito fascinante nisso. A forma de arte e como você a elabora até o ponto em que alguns instrumentos podem fazer você chorar de emoção (especialmente piano, violino), é muito espiritual para mim, me faz pensar nas maravilhas do mundo. De certa forma, para mim, a música é a principal maravilha do mundo.